R$ 44,90

Pague com PagSeguro - é rápido, grátis e seguro!

 

Título: A TERCEIRA MULHER DE QUINTANA
Autor:
Ramon Castro Reis

ISBN: 978-65-85039-91-8 

Formato: 14 x 21
Páginas: 124
Gênero: Romance
Publicação: Bestiário, 2023

Cesar Benvenuti é um viúvo perto dos cem anos. Numa visita natalina dos escoteiros ao residencial geriátrico onde mora, a oferta de uma simples casquinha de sorvete abre um portal na sua memória, transportando-o à época em que trabalhava no Correio do Povo e, junto do amigo Mario Quintana, buscava uma vida mais rica em poesia. Nesse cenário, uma mulher desperta o seu interesse, levando-o a refletir sobre o que sente por ela e sobre sua relação com o poeta, depois de descobrir que os dois estão saindo. Narrada em primeira pessoa, a história tem como pano de fundo a Porto Alegre dos anos 60, com suas marcantes conturbações políticas e transformações sociais.

"Não sabia que o Quintana teve mulher, quanto mais três. Achei que ele fosse tão solitário quanto era fumante.
É o que dizem por aí. Aliás, se diz muita bobagem. Às vezes, pensamos que entendemos de algo, quando na verdade apenas vestimos o desconhecido com a roupagem dos nossos termos. E cada tamanho de pensamento vem com a sua teoria predileta
."

*

Escrever ficção é um exercício exigente. O escritor não usa a linguagem para despesas ou necessidades do cotidiano, mas visa a algo superior. Valendo-se de recursos incomuns, busca uma transfiguração vocabular, que veicula preocupações existenciais, com um detalhe, sublinhado por Anthony Burgess: o escritor não se atém ao som do dicionário, mas a tudo o que tira das palavras trabalhando ao máximo. Tenta não só cativar, mas suscitar sentimentos e emoções diferenciadas. Assim fez Machado de Assis, servindo-se de um registro minucioso da sociedade para criar um mundo diferente do que ficou nos jornais da época. O mesmo fez Érico Veríssimo quando criou o seu universo imaginativo. Ramon parte de um ser concreto, o poeta Mario Quintana, juntando-lhe outras pessoas, que foram transformadas em personagens. Para isso, confere-lhes um halo imaginativo com todas as cores do arco-íris, o qual repercute as suas próprias vivências e outras não autobiográficas. Se não for lida segundo o critério de Roland Barthes, à sombra do prazer do texto, a novela não poderá ser apreciada em toda a sua extensão.
Escrito com fluidez, qualidade atribuída a Machado, e assimilando a influência coloquial de Érico, apta a destilar os mitos do amor e outros temas, o livro foca-os sob a luz de pressupostos filosóficos e psicanalíticos. Numa palavra, é uma ficção inconvencional, que parte de si mesma para sugerir desvios psicológicos, acertos ou desacertos do coração. Ao invés de levar para fora, conduz para dentro, produzindo o sabor que evoca um filme de Fellini ou de Bergman. Da parte do leitor, é preciso aderir às sugestões do autor, que merecem ser pensamenteadas (palavra inventada por Mário de Andrade), uma vez que as soluções estão longe do estilo prêt-à-porter (pronto para vestir), tão comum na atualidade.

Armindo Trevisan

Sobre o autor:
Ramon Castro Reis é psicoterapeuta, psicanalista e escritor. "A terceira mulher de Quintana" é sua segunda novela. A primeira foi "O livro que não escrevi", também publicada pela Bestiário/Class.