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Título:
A
TERCEIRA MULHER DE QUINTANA
Autor:
Ramon Castro Reis
ISBN: 978-65-85039-91-8
Formato: 14 x 21 Páginas: 124 Gênero: Romance
Publicação: Bestiário, 2023
Cesar Benvenuti é um viúvo
perto dos cem anos. Numa visita natalina dos escoteiros ao
residencial geriátrico onde mora, a oferta de uma simples
casquinha de sorvete abre um portal na sua memória,
transportando-o à época em que trabalhava no Correio do Povo
e, junto do amigo Mario Quintana, buscava uma vida mais rica
em poesia. Nesse cenário, uma mulher desperta o seu
interesse, levando-o a refletir sobre o que sente por ela e
sobre sua relação com o poeta, depois de descobrir que os
dois estão saindo. Narrada em primeira pessoa, a história
tem como pano de fundo a Porto Alegre dos anos 60, com suas
marcantes conturbações políticas e transformações sociais.
"Não sabia que o Quintana teve mulher, quanto mais três.
Achei que ele fosse tão solitário quanto era fumante.
É o que dizem por aí. Aliás, se diz muita bobagem. Às vezes,
pensamos que entendemos de algo, quando na verdade apenas
vestimos o desconhecido com a roupagem dos nossos termos. E
cada tamanho de pensamento vem com a sua teoria predileta."
*
Escrever ficção é um exercício
exigente. O escritor não usa a linguagem para despesas ou
necessidades do cotidiano, mas visa a algo superior.
Valendo-se de recursos incomuns, busca uma transfiguração
vocabular, que veicula preocupações existenciais, com um
detalhe, sublinhado por Anthony Burgess: o escritor não se
atém ao som do dicionário, mas a tudo o que tira das
palavras trabalhando ao máximo. Tenta não só cativar, mas
suscitar sentimentos e emoções diferenciadas. Assim fez
Machado de Assis, servindo-se de um registro minucioso da
sociedade para criar um mundo diferente do que ficou nos
jornais da época. O mesmo fez Érico Veríssimo quando
criou o seu universo imaginativo. Ramon parte de um ser
concreto, o poeta Mario Quintana, juntando-lhe outras
pessoas, que foram transformadas em personagens. Para isso,
confere-lhes um halo imaginativo com todas as cores do
arco-íris, o qual repercute as suas próprias vivências e
outras não autobiográficas. Se não for lida segundo o
critério de Roland Barthes, à sombra do prazer do texto,
a novela não poderá ser apreciada em toda a sua extensão.
Escrito com fluidez, qualidade atribuída a Machado, e
assimilando a influência coloquial de Érico, apta a destilar
os mitos do amor e outros temas, o livro foca-os sob a luz
de pressupostos filosóficos e psicanalíticos. Numa palavra,
é uma ficção inconvencional, que parte de si mesma para
sugerir desvios psicológicos, acertos ou desacertos do
coração. Ao invés de levar para fora, conduz para dentro,
produzindo o sabor que evoca um filme de Fellini ou de
Bergman. Da parte do leitor, é preciso aderir às sugestões
do autor, que merecem ser pensamenteadas (palavra
inventada por Mário de Andrade), uma vez que as soluções
estão longe do estilo prêt-à-porter (pronto para vestir),
tão comum na atualidade.
Armindo Trevisan
Sobre o autor:
Ramon Castro Reis é psicoterapeuta, psicanalista e escritor.
"A terceira mulher de Quintana" é sua segunda novela. A
primeira foi "O livro que não escrevi", também publicada
pela Bestiário/Class. |