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Título:
BORBOLETAS NÃO FAZEM NINHO
Autor: Evandro Lopes
ISBN:
978-65-88865-73-6
Formato: 12 x 18 Páginas: 62 Gênero: Poesia
Publicação: Class, 2021
Edição colecionável
A presente edição de poemas, até agora inéditos,
selecionados pelo próprio autor, é limitada a 150
exemplares, assinados e numerados.
Eu caminhava pelo Parcão em uma manhã avivada por flores
e por um sol radiante. Andava pensativo. De repente, algo me
chamou a atenção: uma Borboleta revoando perto do meu rosto.
A princípio algo que não despertaria curiosidade em um
transeunte distraído, ou que estivesse mergulhado em
pensamentos práticos. Porém, tenho jeito à abstração como as
águias para as alturas.
Possuo especial carinho pelas borboletas, acho-as donas de
incrível delicadeza; vejo nelas certa dignidade. São frágeis
e mesmo assim parecem dotadas de espírito aquilino, são
destemidas. Uma lenda oriental diz que representam os cinco
níveis de existência, do nascer vazio de conhecimento ao
último nível, dito Nirvana, quando se chega à sabedoria
minimalista dos seres que se descobrem ínfimos diante da
vida. Passei a tê-las como um símbolo de transformação e
ainda me seduz observá-las.
Naquele dia, a “casual borboleta”, revoando alegremente,
divertia-se com a minha sombra meditativa e também parecia
decidida em me bajular, dando voos rasantes ao meu redor e
se afastando como se fugisse para logo voltar. Um sentimento
bom se apoderou de mim e por um momento pensei ser Deus me
enviando uma espécie de “sinal” – somente Ele sabia no que
eu refletia naquele momento. Gostei da inesperada e
simpática companhia e comecei a girar para mantê-la à vista.
O tempo foi passando, não muito; cinco minutos sagrados que
me fizeram pressentir a presença de algo que ia além da
razão. Asceticismo ou não, é bom às vezes pensarmos ser
visitados pela energia do bem, do amor, do perdão; acreditar
é palavra-ação, e deixar que o coração faça o resto é o que
transforma. Ela seguiu a me fazer a corte com suas
acrobacias enfeitiçadas, naquele bater de asas cuja
premência parecia querer me dizer para acompanhá-la a algum
lugar, deu inúmeros círculos em volta de mim, seguindo meus
passos até quase o final do Parque pelo lado norte e, em
seguida, “sem me dizer nada”, se foi. Esqueci-me de que as
borboletas não se expressam na nossa linguagem, têm a
própria que ainda não aprendemos, mas creio que seja uma
linguagem que se acerque à da poesia. Nela há harmonia,
musicalidade, métrica e, o melhor de tudo, leveza, uma
existência honesta.
Àquela borboleta eu dedico estes mal-acabados poemas que, em
tuas mãos, é como se o casulo começasse a ficar translúcido.
E.l.
Sobre o autor:
Livros publicados de Evandro Lopes:
POESIA —
DOZE POEMAS PARA TE CONQUISTAR, 2006;
GARATUJAS DE AMOR e suas complexidades, 2016;
GERMINAL, Poemas por amor à vida,2017;
JANELAS MÍNIMAS, Haicais, 2020.
CONTOS —
PASSAGENS, 2010;
SOL NA TARDE GRIS, Meditações de Outono, 2018;
NA ÍRIS DO SILÊNCIO, 2019;
NOZES
QUEBRADAS, 2019;
O OLHAR DE VÊNUS, histórias eróticas, 2020.
Participou da coletânea de minicontos
Outras sem / Cem palavras, em 2018.
Todos pela Editora Bestiário.
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