R$ 38,00
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Título:
CORPOS E MOBÍLIAS Autora:
Júlia Azzi
FINALISTA
PRÊMIO MINUANO 2022
ISBN : 978-65-88865-30-9
Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 128 Gênero: Poesia Publicação: Class, 2021
O número impressiona, ainda
mais para um livro de estreia: 82 poemas. Mas não se trata,
evidentemente, de sublinhar o valor de uma obra poética por
seus números, e sim por suas palavras. O que elas dizem e,
sobretudo, o modo como dizem o que dizem. E é aí que Júlia
Azzi, com seu Corpos e mobílias, mostra a que veio.
Um desconforto, seja ele individual, familiar, existencial
ou social, atravessa esse conjunto de poemas sem, no
entanto, configurar-se propriamente como seu tema: não é um
falar sobre o desconforto, mas a partir dele. Esse
desconforto, para dizer de outra maneira, é um traço da
personalidade que (se) enuncia, a si mesma e ao mundo, ao
longo das quatro seções do livro: um desconforto que não
descamba para a melancolia, nem para a revolta, nem para a
ironia – sabendo se valer delas, quando necessário; que se
resolve pela inteligência de um olhar que observa “os olhos
murchos/ do chute/ na calçada” e os absorve em seu “corpo
cheio de becos”; que se indaga permanentemente, “como quem
cultiva certezas/ matemáticas sobre as/ dores”, com a
consciência de que “todo adolescente/ no fundo de algum
lugar/ fala em alma”.
A dicção do desconforto, na poesia de Júlia Azzi, é embalada
por uma voz esquiva, que se sabe “confinada/ a espaços cada
vez menores/ habitando um cabelo/ um ponto da pele/ de meu
corpo em garras”, e reforçada pelos cortes calculados dos
versos – abruptos mas sem alarde, sintáticos mas sem
condescendência. Uma voz e uma dicção, enfim, capazes de
interiorização sem derramamento: “não aprendi a dobrar o
corpo com cuidado/ amasso-o/ até caber no próprio embrulho/
como um nó”.
Em outro plano, a recorrência do corpo e do espaço da casa,
presentes desde o título do livro, é contrabalançada pelos
elementos do universo orgânico exterior – terra, insetos,
plantas, frutas, bichos –, numa mescla anunciada, harmônica
e antiteticamente, pelos títulos das seções: “espectros e
cascas”, “garras e dentes”, “pele, pulsos e pés” e “pelos e
folhas”. Animal e social, transcendente e biológico,
matemático e instintivo, eis o humano.
Nos poemas de Corpos e mobílias, há quase sempre um
cotidiano entranhado e estranhado: “a torneira perdida/ na
força do líquido/ exalta um triunfo na pia”. Por essa dupla
valência, são poemas que pedem para ser lidos com vagar, com
silêncios entre um e outro, avançando como quem teme
encontrar aquilo que quer, mas quer encontrar aquilo que
teme: “alguém que gaste as solas dos sapatos/ atravessando-o
de um lado a outro/ o perverte com sua gastura interna:/
encontrar nele uso (mesmo o desespero)/ é inutilizá-lo,
tornando-o mais cheio”.
Diego Grando
fevereiro/2021
Sobre a
autora:
Júlia Azzi é poeta e professora de língua portuguesa e
literatura. Nasceu em 1995 em Porto Alegre, mas sempre viveu
em São Jerônimo; e há alguns anos mora no trânsito entre as
duas cidades. É graduada em letras e mestre em estudos
literários aplicados pela UFRGS. |