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Título:
CORVOS
Ensaio e tradução dos haicais de Kobayashi Issa, com
ilustrações de Kawanabe Kyôsai. Autores:
Andrei Cunha e Roberto Schmitt-Prym
ISBN: 978-65-84571-13-6
Formato: 14 x 21 Páginas: 84 Gênero: Ensaio
Publicação: Bestiário / Class, 2022
Quando, já no século XIX,
Kobayashi Issa menciona o corvo em seus poemas, o pássaro já
foi admitido ao mundo do haicai como um tópico legítimo,
fazendo referência tanto a situações melancólicas quanto
cômicas. O poeta não o associa a uma única estação, fazendo
uso de diferentes comportamentos do corvo ao longo do ano
para marcar a passagem do tempo. Issa acha que o corvo é
esperto e traiçoeiro, algo que ele aprendeu das crenças
populares; e o associa às pessoas simples — em contraste com
o rouxinol, de fama mais aristocrática. O corvo é um pássaro
muito inteligente e, como nós humanos, onívoro; ele pode
tanto buscar alimento nas lavouras como no lixo, e pode
mesmo roubar comida das casas, como ficará claro na leitura
dos poemas aqui reunidos. Por ter esse comportamento
complexo, o corvo é um tópico ideal para Issa, autor muito
conhecido pelos poemas em que imagina características
humanas em insetos, ratos, passarinhos e outras criaturas
pequenas ou humildes.
Sobre os autores:
Kawanabe Kyôsai (河鍋暁斎, 1831–1889) foi pintor e xilógrafo.
Considerado por muitos como o “herdeiro de Hokusai”, Kyôsai
pertencia a uma família de samurais. Começou a estudar aos
sete anos de idade com Utagawa Kuniyoshi e, posteriormente,
com mestres da Escola Kanô. Na segunda metade do século XIX,
instalou-se em Edo e passou a atuar como um artista com
ateliê próprio. Com a Restauração Meiji, começou a publicar
caricaturas e sátiras do governo, o que rendeu-lhe inúmeras
noites na cadeia. Foi imensamente produtivo, tendo criado a
primeira revista com histórias em quadrinhos e orientado
inúmeros discípulos. Participou da Exposição de Viena de
1873 e da Exposição de Paris de 1878.
Kobayashi Issa (小林一茶,
1763–1827) foi um escritor e poeta japonês. Teve uma vida
atormentada, que explorou em diários, marcada pelas
desavenças familiares, pela morte de vários filhos e outros
desgostos, como a morte da primeira esposa. Estudou haicai
com um professor chamado Chikua, que seguia a tradição de
Bashô, e em cujo grupo Issa publicou diversos poemas, vindo
a tornar-se o mestre do grupo com a morte do professor. Foi
afastado um ano depois, por diferenciar-se demais do haicai
ortodoxo. Viajou por dez anos para ocupar o tempo e em algum
momento se tornou monge budista, mas casou-se novamente aos
63 anos e mais uma vez aos 64 anos e quando faleceu deixou
uma esposa e uma filha ainda não nascida.
Issa é lembrado como grande autor de haicai, sendo o mais
importante autor deste gênero na terceira fase clássica,
demonstrando subjetivismo, crítica social e piedade. Na sua
obra, as referências às estações do ano não são
obrigatórias, o que diferencia sua obra daquela dos
haicaístas clássicos, sendo também o apelo aos sentidos,
principalmente à imaginação visual, menos intenso do que em
Bashô ou Buson. Seus poemas o tornaram popular por
explorarem um certo lado cômico e até nonsense da vida e da
natureza. |