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Título:
A COSTURA ARRANCADA
Autor:
Alexandre Pandolfo
Dimensões: 14 x 21 cm
Páginas:
Gênero: Conto
Ano: 2016
Alexandre Pandolfo nasceu
em 1985 em Porto Alegre. Atualmente faz doutorado em
Teoria da Literatura, junto ao Programa de Pós-Graduação
em Letras da PUCRS. É professor e estudante. Escreve
principalmente ensaios, dedicando-se também à escrita de
contos.
Desde as ruínas do começo o leitor será
solicitado a largar a mão da segurança e caminhar sem
salvaguardas pelas bordas abismais de um tecido
inacabado.
É um convite a mergulhar na medula da sua
pele, e deixar que aconteça um corpo a corpo
imprevisível, para que o incessante ao atravessar suas
texturas não deixe de fluir, e ainda na ruptura, ou
melhor, graças a ela, o rastro da errante tinta siga seu
curso desviante e incerto. Quiçá um tremor percorra os
ossos, mas não há porque desistir, talvez seja a
vibração turbulenta do chegante, logo sem saber se
estará vivendo e morrendo com mais de um corpo as
entrelinhas, as lacunas, as memórias, os fios por vir de
esta costura arrancada ao silêncio, os outros corpos que
entre detritos ecoam no desejo infinito das palavras, e
se incrustam na experiência de uma leitura sem garantias
dadas. Assim, não seria estranho que a cinza restante
pelas travessias de ficção aqui aventuradas, deixasse
sentir o pesado vazio que só uma caixa invadida durante
anos por um corpo que lhe é indiferente poderia
entender. Nesse vazio colmado de vazio, se poderá
passar, pesar, pensar, pender no irrespirável. Mas, em
respeito às alteridades que o transbordam, a costura
precisa deixarse arrancada ao acaso, assim como a
improbabilidade da mudança de ar mantém viva a vinda de
algo outro. A interrupção inscrita arde ininterrupta na
sua disseminação. Nada do existente está plenamente
confeccionado, nem absolutamente dito, a heterogeneidade
antecede imemorial. Pela fragilidade de um fio solto os
textos podem vir ao encontro. Então, por que abster-se
ao sopro da tormenta e desesperar por suturar o corte,
em contraponto, por que não insistir contra todo
tribunal e curativo paralisantes, e arriscar e
relançar-se no insondável de sua abertura sem remédio?
Honatan Fajardo Cabrera
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