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Título:
DINASTIA MIM
Autor: Ricardo
Silvestrin
FINALISTA DO
PRÊMIO AGES
Formato: 12 x 18 cm.
Páginas: 102 Gênero: Poesia Publicação: Bestiário, 2022
ISBN 978-65-998288-9-8
Em DINASTIA MIM, Ricardo
Silvestrin nos apresenta oitenta haicais que levam adiante a
sua pesquisa formal relacionada a esse gênero poético, ao
qual ele se dedica desde o início de sua trajetória. Falar
de haicai no Brasil não é assim tão simples, pois desde que
os primeiros imigrantes japoneses desembarcaram em Santos no
início do século XX, a forma japonesa já foi introduzida,
reintroduzida, adaptada e ressignificada inúmeras vezes, a
partir de pontos de vista, linhagens e compreensões
diferentes — desde a primeira geração de modernistas,
passando pelo concretismo, pela contracultura dos anos 1970
e 1980, e chegando à redescoberta da poesia dos imigrantes e
da literatura japonesa em tradução no século XXI. Há
praticamente tantos entendimentos do que venha a ser o
“haicai no Brasil” quanto há poetas e leitores de haicai por
aqui. Nesse contexto, a síntese de Silvestrin é
especialmente produtiva e potente, pois resulta de um
refinamento muito rico de influências, tradições e
inquietações específicas. Ele conversa de igual para igual
com os poetas da tradição haicaísta brasileira, visitando os
procedimentos mais conhecidos dessa turma: o humor, o
paradoxo, a cultura popular, as referências ao cotidiano e
ao político, a leveza desavergonhada. Encontramos também
inúmeros ecos, temas e ferramentas da poesia do Japão,
abrangendo não apenas o haicai medieval ou moderno, mas se
estendendo ao tanka da Antiguidade. A esquina da Osvaldo com
a João Telles surge como um utamakura porto-alegrense; e ao
longo da leitura saudamos em reconhecimento diversos
cidadãos célebres da cidade — como as caturritas, os sabiás
e os morcegos. A observação sobre a finitude da vida a
partir de um jarro de flores tem o eco certeiro de um poema
de Shiki. As referências a Issa são ainda mais frequentes,
como quando Silvestrin se identifica com os seres diminutos
e humildes. Do haicai clássico de Bashô, há a busca do
prazer estético no espanto e o vislumbre de uma dimensão
transcendental no corriqueiro. Há inclusive um diálogo
intertextual com a própria obra de Silvestrin — que
reconhecemos, por exemplo, na forma de uma melancolia
invernal diante da velhice e da morte que já estava presente
em outros livros seus. A casa onde o poeta vive é, como nos
ensaios de Kamo no Chômei, ao mesmo tempo uma metáfora do
corpo e do mundo: ele nos faz ver as paredes, os muros, a
chaminé, os gatos que transitam entre as salas e o pátio, e
sentimos a materialidade do lugar, conversamos com os seus
habitantes, sorrimos para as suas flores e chuvas,
circulamos pelos seus arredores. O registro do momento
vivido, seja na dimensão pessoal, social, ou política,
também é uma característica que encontramos em momentos
anteriores de sua obra; em DINASTIA MIM, esses temas
recorrentes ganham uma nova dimensão — como se o haicai
fosse a forma perfeita, destilada e polida por anos, para a
expressão das inquietações e tópicos mais caros ao poeta. O
haicai, hoje, no Brasil, é resultado de uma frutífera
síntese de tradições japonesas e locais; o haicai de
Silvestrin, nessa paisagem, é uma das versões mais
interessantes e complexas dessa flor aclimatada.
Andrei Cunha
Sobre o autor:
Ricardo Silvestrin
nasceu em Porto Alegre, em 1963. É mestre em Literatura pela
UFRGS, defendendo a dissertação Manuel Bandeira, um poeta
na fenda. Lançou Prêt-à-porter, haicais para as
quatro estações, em 2017, e Bashô um santo em mim, em
1988. Integra a Antologia Mundial de Haikai Frogpond,
lançada nos Estados Unidos pela Haiku Society of America.
Figura também nas antologias 100 haicaístas brasileiros,
edição Massao Ohno e Aliança Cultural Brasil-Japão, e
Haicais Tropicais, organizada por Rodolfo Guttilla,
editada pela Cia das Letras. Foi premiado com o segundo
lugar no concurso do Encontro Brasileiro de Haicai, tendo
como jurados Paulo Leminski, Alice Ruiz, Olga Savary e
Roberto Saito. Na poesia, publicou, entre outros, Palavra
mágica (prêmio Açorianos de poesia), O menos vendido
(prêmio Açorianos de poesia), Metal (finalista dos
prêmios Brasília e Portugal Telecom), Typographo
(finalista do prêmio Açorianos), Sobre o que
(finalista do prêmio AGES) e Carta aberta ao Demônio.
Publicou um livro de contos, Play, e um romance, O
videogame do rei, ambos pela editora Record. Na
literatura para crianças, destacam-se É tudo invenção,
que integra a Biblioteca Básica do Estudante Brasileiro da
FNLIJ, Pequenas observações sobre a vida em outros
planetas (prêmio Açorianos de literatura infantil) e
Los Seres Trock, editado em Montevidéu, prêmio de
edições do Ministério da Cultura do Uruguai. Traduziu
haicais de Kobayashi Issa no livro Isso não é arte e
também poemas de Paul Verlaine no livro Festas Galantes,
ambos pela editora Bestiário. É compositor e vocalista e
lançou o álbum Silvestream. |