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Título: ESCRITA
CRIATIVA
Autor: Bernardo
Bueno (org)
ISBN 978-85-94187-37-6
Dimensões: 14 x 21 cm
Páginas: 156
Gênero: Conto, Poesia
Ano: 2017
Na PUCRS tivemos a oportunidade de desenvolver e
introduzir os primeiros cursos de Escrita Criativa em
uma universidade no Brasil. A honra de ter feito – e de
ainda fazer – parte desse processo é muito grande. Mas,
principalmente, é uma oportunidade de receber alunos que
vêm sem preconceitos, sem saber exatamente o que esperar
de uma disciplina de Escrita Criativa, de um curso de
graduação ou de pós-graduação. É uma chance de dialogar
com suas expectativas e moldar o futuro. Porque nem
todos têm certeza absoluta de que querem ser escritores
(pergunto: será preciso ter certeza absoluta?). O
próprio Murakami, tantas vezes cotado a receber o prêmio
Nobel, iniciou sua aventura literária dando uma pausa no
seu negócio como dono de bar; se não desse certo,
voltaria a fazer o que estava fazendo. Alguns alunos não
sabem o que fazer com seu talento. O escritor não tem
uma profissão no mesmo sentido dos médicos, advogados,
enfermeiros, arquitetos; não há regras a seguir, não há
carteirinha ou Conselho Regional. Não existe registro na
carteira de trabalho ou concurso público. Aprender a
escrever é aprender a lidar com o próprio talento, saber
vendê-lo se necessário (se for essa a intenção), saber
expressá-lo, saber usar as ferramentas da escrita a seu
favor. Ser escritor é um caminho solitário (daí a
necessidade de conhecer os hábitos dos outros).
É aí que entra a minha maior preocupação: qual a
responsabilidade de alguém com o seu próprio talento?
Aqui vamos definir talento não como uma habilidade
natural, mas como um amálgama de vontade, técnica e
sensibilidade artística. Quantas vezes me deparei com
textos maravilhosos, muito bem escritos, vivos,
interessantes, empolgantes, textos que carregam a fogo
sagrado, o fogo da criação, o fogo de Prometeu? Eu
penso, ao fim dos cursos e dos semestres, o que esses
criadores vão fazer a respeito? Não haveria, no artista,
uma responsabilidade de manifestar o seu talento? Não
estou dizendo que esses alunos estejam prontos. Mas há
uma sugestão, às vezes, de que se eles continuarem
fazendo o que estão fazendo, algo grande vai acontecer.
Ou ainda: quanta gente por aí carrega essa chama da
criação mas nunca fizeram, nem vão fazer nada a
respeito? E não estou falando aqui de escrever como
forma de expressão, como uma mera experiência criativa
ou hobby de fim de semana. Essas formas de escrita tem
seus méritos. Escrever pode ser até uma ferramenta
terapêutica, muito válida para ajudar alguém a entender
e organizar seus sentimentos, mas falo de um compromisso
maior. De uma consciência de sua própria paixão; uma
vontade de persegui-la que assombra, que não nos deixa
em paz.
Bernardo Bueno |