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Título:
ESTES QUE TÊM FUTURO BASTANTE Autora:
Juliana Meira
ISBN: 978-65-85039-49-9
Formato: 14 x 21 Páginas: 132 Gênero: Poesia
Publicação: Bestiário, 2023
OS
POEMAS-PAISAGEM
O
futuro, assim como o passado, só existe na linguagem.
Estamos sempre no presente. No entanto, como somos seres de
linguagem, estamos também ora no passado, ora no futuro e
até, de vez em quando, no presente. Enxergar o
instante, sem estar com a cabeça longe, vagando em memórias
ou em planos e conjecturas sobre o porvir, é tarefa
difícil. A poesia de Juliana Meira nos coloca muitas vezes
em algum aqui e agora com o recurso da descrição.
Desenrolam-se frente aos nossos olhos uma paisagem, um
bicho, uma estrada, uma criança. Em outros momentos, um
pouco do passado chega com uma antiga infância, uma
benzedeira. E percorre o livro como um rio subterrâneo, uma
certa aflição em relação ao futuro, palavra presente no
próprio título e repetida em alguns dos poemas. Coincide
esse sentimento talvez com três fatos extraliterários que se
imbricam na vida da autora e se derramam nos seus poemas: o
nascimento de um filho, uma pandemia e um governo fascista.
Mas essa mãe, sobrevivente, cidadã e, sobretudo, poeta se
sai bem dessas aflições todas. Lembrando a música do Hermelino e
a Football Music, "pô, amar é importante/você não imagina a
aflição que eu fico/quando estou contigo ou não estou", o
amor, incluindo o amor pelos filhos, é uma aflição danada. A
poeta, e é dela que temos notícias aqui, sai-se
bem, como vem fazendo ao longo de todos os seus
livros, pois transforma aquilo sobre o que se debruça em
poemas que sobrevivem ao que os tenham motivado. Com uma
hábil construção de ritmos, de rimas internas, de cortes na
página. Com sua extrema capacidade de sugerir mais do que
dizer. Com sua inteligência criativa que escolhe muito bem
cada recurso. Com tudo isso, Juliana Meira traz para quem
ler seus livros deleites e desafios. É poesia para se ler
com calma. É preciso entrar em sintonia com seu texto. A
aparente rapidez causada pelo próprio tamanho dos versos e
dos poemas encontra resistência no seu dizer enviesado,
cheio de armadilhas e surpresas. Ao final de cada página,
podemos nos pegar dizendo, como no final de um dos seus
poemas: "por que diabo fui me meter/com essa paisagem".
Ricardo Silvestrin
Sobre a autora:
Juliana Meira nasceu em 1981, no interior do Rio Grande do
Sul, em Carazinho. Hoje vive entre Canela/ RS e Brasília/DF.
É autista e AH/SD. Tem publicados, entre outros, “poema
pássaro” (Patuá, 2015), “na língua da manhã silêncio e sal”
(Modelo de Nuvem/Belas Letras, 2017), livro vencedor do
Prêmio Minuano de Literatura na categoria Poesia no ano de
2018, e “água dura” (Artes & Ecos, 2019). Participa das
antologias “Blasfêmeas: Mulheres de Palavra” (org. Marilia
Kubota e Rita Bittencourt, Casa Verde, 2016), “Treze
Mulheres e Um Verão” (org. Bárbara Lia, Feito no Ato/Psappha,
2018) e “As Mulheres Poetas na Literatura Brasileira” (org.
Rubens Jardim, Arribaçã Editora, 2021). Integra o livro
eletrônico “Próxima estação: poesia” (org. Élvio Vargas,
Instituto Estadual do Livro do Rio Grande do Sul, 2022). |