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Título: FOTOSSÍNTESE
Autora: Sinara Foss

Formato: 14 x 21 cm.
Páginas: 114
Gênero: Contos brasileiros
Publicação: Bestiário/GOG, 2023

ISBN 978-65-85039-92-5

Fotossíntese e outros processos de sobrevivência é um excelente exemplo do poder das alegorias da natureza incidindo sobre o texto literário. Sinara Foss, assim como eu e tantas outras escritoras, confiamos na capacidade reativa da natureza. Confiamos que o mato virá, um dia, retomar o espaço que lhe foi tirado. Arquitetado em três subtítulos: Fase luminosa, Fase de fixação e Rearranjo, a reunião de contos segue a organização do processo vital das plantas.

A coletânea abre com o estupendo Fotossíntese, conto que traz a história de uma garota que vê brotar, a partir de seu canal auditivo, uma plantinha. Em decorrência desse acontecimento antinatural, somos conduzidos a reflexões que se chocam com questões ancestrais e outras bem contemporâneas. Mas nem só do Reino Vegetal o livro é feito. No conto a seguir, Desova, uma mulher ressentida ("até a aranha a recrimina") vê seu impulso maternal tomar proporções inimagináveis após um encontro incomum. Os contos que seguem o fio de desenvolvimento nos localizam espacialmente: estamos em Vinha D’Alho, cidade que também ambientou Plural de fêmeas (2021). É a partir daí, desse retorno à Vinha D’Alho, que as pequenas e grandes maldades e perversões tomam corpo dentro das narrativas. Experimentando um espelhamento com Plural de fêmeas, Foss nos põe cara a cara com mulheres que reagem após anos de humilhações. Mas não só, em Fotossíntese e outros processos de sobrevivência, a natureza revida, mostra ao bicho homem sua pequenez frente a tudo aquilo que ele não compreende e, por isso, não respeita.

"Odiava mulheres que argumentavam com a voz aguda pelo choro", diz o narrador do conto Marcador de páginas, a primeira de muitas incursões à metalinguagem que a autora empreende. É um movimento interessante que nos leva, adiante no livro, a ler outros dois pontos de vista a respeito da mesma história.

Há, também, a exploração da perplexidade frente à morte, mostrada com base na reação da personagem do conto Badaladas. Há o peso da tecnologia se impondo sobre as escolhas, como no conto GPS. E há o estranho, o esmagamento de uma realidade a ponto de fazê-la tocar o absurdo, como em Olhos na estrada.

Foss, assim, como Nara, personagem do conto Peste, é irmã das árvores. Junto-me às duas no sentimento de catarse que experimentamos cada vez que a natureza revida. Comemoramos quando, num grande efeito de metalinguagem, Zuleica encontra o livro e o salva do fogo.

Em sintonia com o processo da fotossíntese, a parte final, Rearranjo, é onde ocorrem mudanças. Histórias iniciadas nas partes anteriores encontram um final possível. Personagens se movem e deparam com novas possibilidades, uma estratégia narrativa que se aproxima da engenharia do romance. Interessa à autora, entretanto, o efeito do conto. E ele está muito bem trabalhado nas narrativas desta coletânea.


Irka Barrios

Sobre a autora:
Sinara Foss nasceu no interior de Santo Antônio, cidade entre a capital do RS, a serra e o mar. Como os avós paternos falavam alemão o tempo todo em casa, sempre se interessou por línguas estrangeiras. Formou-se em Tradutor e Intérprete – Inglês e Alemão pela PUCRS. É Especialista e Mestra em Literaturas de Língua Inglesa pela UFRGS. Desde jovem publica livros com a temática de defesa dos animais. Tem duas filhas. Luta pela natureza, é vegetariana por convicção há mais de quinze anos, tem muitos gatos e cães resgatados das ruas, que considera como filhos. Diz-se mãe dos animais e irmã das árvores. Trabalha como tradutora e professora de inglês.