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					INDISPONÍVEL | Título:
						ISSO NÃO É ARTEAutor: 
					Kobayashi Issa
 Tradução: Ricardo Silvestrin
 
					ISBN 978-85-94187-58-1 
					Formato: 12 x 18 cm.Páginas: 94
 Gênero: Poesia
 Publicação: Class, 2019
 
					Kobayashi Issa (1763–1827) é 
					um daqueles grandes da literatura que pagaram um preço alto 
					por darem prazer ao seu público: como Mario Quintana, 
					Alexandre Dumas, Anton Tchekhov, Jacques Prévert, ou ainda 
					seus conterrâneos Miyazawa Kenji e Murakami Haruki, o 
					impacto de Issa é tão acessível, mesmo para quem “não gosta 
					de literatura”, que suscita desconfiança em críticos mais 
					sisudos — o tipo que imagina que, para ser arte, precisa dar 
					trabalho ao leitor. 
					Issa não é arte? É um clichê 
					dizer que é muito difícil ser simples, que a leveza do 
					artista esconde um fazer cheio de gravidade. Os haicais de 
					Issa abrigam muitos níveis interpretativos, tanto como 
					representantes da sua cultura, quanto como peças discretas 
					que funcionam em diversos contextos. Ele é herdeiro de uma 
					tradição japonesa, literalmente milenar, de desprezo pela 
					distinção entre o confessional e a ficção: seus comoventes 
					diários e poemas são, ao mesmo tempo, “baseados em fatos 
					reais” e sínteses daquilo que Ricardo Silvestrin chama, em 
					sua Introdução, de “um eu que se dissolve, um eu mínimo, no 
					limite do não-eu”. Por outro lado, mesmo sem o melodrama 
					pessoal, extirpados de seus habitat linguístico, social, 
					moral, os poemas continuam vivos, desafiando o equívoco, 
					bastante comum, de que Issa não merece ser mencionado com os 
					outros dois da tríade — Bashô e Buson —, por não ser 
					“suficientemente sério, suficientemente profundo”. 
					Assim como há quem ache 
					simples ser simples, vai ter gente que vai dizer que o 
					trabalho de Silvestrin foi pequeno. Afinal, que mistério 
					pode haver em repetir, em português do Brasil, as frases 
					diretas e descomplicadas de um poeta de fácil comunicação? O 
					sentimentalismo dos haicais de Issa, que ele herdou da 
					tradição do waka da Antiguidade, mais do que do 
					haicai da Idade Média, já é tão pungente, que bastaria, 
					seguindo esse raciocínio, repetir a mesma história em nossa 
					língua. De novo, há aí engano. Silvestrin consegue fazer um 
					trabalho difícil sem permitir que ele pareça difícil: os 
					poemas — que ele escolheu claramente por afinidade, por 
					ressonância — se apresentam a cada folha deste precioso 
					livro como que recém-chegados a um mundo que é uma fusão de 
					brevidade nipônica com uma sensibilidade linguística nossa, 
					e isso é para poucos. Eis aí a mágica, que nem todos veem: 
					ser arte tão leve que desafia a mesma ideia do que seja 
					arte. 
					Andrei Cunha
 
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