
R$ 30,00
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Título:
NADA É QUANTO BASTA
Autor:
André de Carvalho
ISBN 978-65-990301-5-4
Gênero: Poesia
Publicação: Class, 2020
Em Nada é quanto basta, a mirada analítica
do poeta registra as remelas das horas, o joelho ralado da
vida, os cativeiros vários em que nos metemos, na espuma dos
dias. Aqui, não há promessa de salvação ou cura. O talho não
fecha. Os poemas apontam tanto a indiferença cósmica aos
bafos de chocolate quanto a escalada do ódio que nos mata –
e não há nada e ninguém para se tratar com amenidade e
amenida-
des, nem a poesia.
Para que serve um poema, afinal, na fila das dores do mundo?
Enganar-se ou enganar o leitor com vaidade e condescendência
este eu-crítico (e autocrítico) não vai, como avisa desde o
primeiro poema. O canto que abre o livro faz um inventário
de temas, ao negativo: vai cantar o júbilo dos fracassados,
o amor que desaparece, a criança não nascida. No último
verso, não escapa nem o canto, em segredo, também das causas
vencidas: arte de não se poupar.
Para que se poupar, e aos poemas, se não há carnaval
enquanto a Síria está em guerra, enquanto a lama inunda a
rua, enquanto o sol mata famílias – mas só algumas – na
seca?
Henri Meschonnic fala que o poema não diz, faz. Nessa
estreia na poesia de André de Carvalho, o jogo entre som e
sentido tem música própria, inventiva na prosódia e nos
recursos imagéticos. Formalmente múltiplo, Nada é quanto
basta se lança também nos poemas visuais. Apresentados
alternados, criam um interessante diálogo na dupla de
páginas, que costuram novos sentidos aos versos à direita e
à esquerda – um dos convites de leitura possíveis dessa
estruturação. O grafismo de traço direto e reto entrega um
humor semelhante, muito franco – às vezes ácido, ora
agridoce, repetidamente sagaz. Qualidades que aparecem
também nos brevíssimos poemas mais narrativos.
Sem humor não se escreve versos verdadeiramente sérios,
ensina um verso de W.H. Auden, que cabe muito bem neste Nada
é quanto basta. Entregar o riso e o pranto, de tantos tipos,
eis o que (também, também) faz, muito bem, o poema.
Moema Vilela |