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Título:
OSSO
Autor: Rodolfo Witzig
Guttilla
ISBN: 978-65-85039-56-7
Formato: 14 x 21 Páginas: 94 Gênero: Poesia
Publicação: Bestiário, 2023
O poeta
sabe: ao contrário da Água da Vida, garantia da imortalidade
com que o homem sonha desde a mais remota Antiguidade, que
jorra de uma única fonte, difícil de ser encontrada, a
Poesia brota de muitas fontes, todas encontráveis em
qualquer parte, sobretudo quando menos se espera. Poesia é
como aquela Verdade de que fala Alberto Caeiro: só porque
não fui procurá-la, encontrei-a. Basta que o poeta esteja
atento às circunstâncias que se multiplicam, sem cessar, em
seu redor (...)
O que temos é um largo e heterogêneo leque de interesses,
que vão de breves notações a respeito da vida cotidiana
(amendoim, futebol, picolé de limão, um cigarro, o celular,
a TV) a altos voos metafísicos (o ardor patriótico, a morte
do pai), passando por bares e lanchonetes, gatinhos paridos
no sofá, a ingrata e a mais bruta solidão, o elefante no
circo, a batalha do amor, umas citações em latim, umas
referências mitológicas etc.; além de algum jazz, rememorado
também com ardor, embora não patriótico (...):
Quase todos os seus poemas se inscrevem no âmbito da
rememoração, lembranças quase sempre fragmentárias de um
gesto, uma cor, um som, um sentimento, um lugar, uma frase,
um objeto banal – algo que parece distante, solto,
desparelhado, e, no entanto, revive, insistindo em
permanecer. Em busca do tempo perdido, proustianamente?
Parece que não. Nosso poeta resiste ao doce embalo da
nostalgia. O passado e a memória aí comparecem para que o
presente, aqui e agora, se imponha e ganhe algum sentido,
deixando de ser aquele inglório recomeçar do zero, a cada
dia. De onde proviria esse sentido senão da continuidade do
já vivido, ainda que disperso, estilhaçado? Por isso as
lembranças e circunstâncias se multiplicam nas coisas de
fora, mas ecoam dentro da consciência que se interroga, e
disfarça muito bem, com distanciamento e ironia, o seu
desejo mais secreto, sabidamente irrealizável: a vida
eterna, a completude, a perfeição.
Essa talvez seja uma das chaves que nos permita ler, com
proveito, os novos poemas de Rodolfo W. Guttilla. Mas é só
um exemplo. O leitor encontrará outras, porventura mais
convincentes e mais proveitosas.
Carlos Felipe
Moisés
Sobre o autor:
Rodolfo Witzig Guttilla nasceu em São Paulo, em 1962.
Participou das antologias de poesia Sopa de Letras (1984),
“100 haicaístas brasileiros” (1990), “Roteiro da poesia
brasileira: Anos 80” (2010), “Transpassar: Poética do
movimento pelas ruas de São Paulo” (2016) e “Clarões
manifestos: haicais brasileiros” (2022), entre outras.
Publicou os volumes de poemas “apenas” (1986), “Uns & outros
poemas” (2005), “Ai! Que preguiça!..”. (2015) e, em parceria
com Alice Ruiz S, “amorhumorumor: haikais & senryus” (2020)
– os dois últimos pela editora Companhia das Letras. Pela
mesma editora, organizou as antologias “Boa companhia
haicai” (2009) e “Haicais tropicais” (2018). |