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Título:
UM LAR EM LINHA TÊNUE Autora:
Camila G. Guilland
ISBN: 978-65-84571-18-1
Formato: 14 x 21 Páginas: 66 Gênero: Contos
Publicação: Bestiário / Class, 2022
Leia um trecho:
Um lar em linha tênue
A alma é, por vezes, um
terreno demasiadamente estranho para se habitar. O abismo
mais infinito, o quarto mais sombrio, a voz mais horrenda a
ponto de seu nome não ousarmos sequer pronunciar.
É, inclusive, o envolver do abraço sem comparação, é a
esguia estrada com destino incerto e fonte de um fascínio
quase que inacessível senão ao lume existencial de quem o
toma como abrigo.
O dia era mais um dia qualquer. Sem grandes começos — em
verdade, se expressava em preâmbulo a iminente ruína. Como
que convergindo a um estado rigidamente demarcado, cuja
linha anuncia, pelo menos, a necessidade de uma despedida.
Como se estivesse escrito no cosmos o esforço demasiado,
senão impossível, para ultrapassá-la.
O sol hesitava em impor seus raios vívidos, tal que o que
restava era contentar-se com a monotonia de um céu tépido —
e que, por sinal, fazia emergir certo constrangimento. As
nuvens simplesmente deslizavam para cá e para lá... sem
exatidão, como que dançando suave e serenamente. Sem
destino. Entrelaçavam-se umas com as outras, ora
amontoando-se, e manchando o céu com espessas camadas
negras, frementes; ora afastando-se de modo um tanto
violento, esvaindo-se pelo pálido azul, no que
apresentar-se-ia, então, o deslumbre de um sossego
indissociável do seu movimento..
Sobre a autora:
Camila Grossmann Guilland nasceu no interior do Rio Grande
do Sul e hoje reside em Porto Alegre. É graduanda em
História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), onde atua como bolsista de iniciação científica. Em
sua trajetória há reflexos de sua passagem pelos cursos de
Filosofia e Direito. Foi premiada recen-temente com a
segunda colocação no Concurso Nacional Novos Poetas,
Poe-tize 2021, pela Vivara Editora Nacional. Com “Mácula com
gorjeio”, poesia então publicada, Camila toca-nos com sua
sensibilidade, incita-nos o olhar filosófico frente à
infinitude com que se desdobram os repertórios semânticos da
existência e, portanto, pela qual a palavra se despe, escapa
de todo ponto final. É a partir de sua aguçada atenção aos
detalhes, aos terrenos insólitos que perpassam a experiência
do cotidiano – não sem ousar, por vezes, incutir-nos uma
espécie de tensão –, que a autora inaugura seu espaço no
universo da escrita. |